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A BIBLIA É A PALAVRA DO DEUS VIVO JEOVÁ.

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DISSE JEOVÁ DEUS: "Eu sou Jeová.Eu costumava aparecer a Abraão, a Isaque e a Jacó como Deus Todo-Poderoso,mas com respeito ao meu nome, Jeová,não me dei a conhecer a eles".Êxodo 6:1-30

sábado, 2 de junho de 2012

JUIZ-DR.GERIVALDO NEIVA:Apesar das Leis e do Direito, o sábado existe!

Eu também bebi algumas latinhas de cerveja naquela boate na noite de sábado. Foram poucas, pois para o professor, Juiz de Direito, autoridade, etc, etc, beber para se embriagar em presença de jovens estudantes de Direito, admiradores, advogados, colegas e outros desconhecidos, a “ressaca moral” do dia seguinte deve doer mais do que a ressaca do corpo. Seguindo a recomendação e a prudência, também não dirigi na volta para o hotel. Um analgésico no café da manhã e tudo de volta ao normal. Falar assim de forma tão real e transparente já foi algo proibido para mim. Hoje não vejo mais problema algum em me mostrar como um ser humano absolutamente normal, que bebe cervejas e sofre com ressacas físicas e moral. Antes do Juiz, um homem! Nem menos e nem mais! Na manhã daquele mesmo dia, fiz uma palestra na Semana Jurídica promovida pelos formandos de certa Faculdade de Direito. Os estudantes gostaram, mas eu não gostei muito da minha apresentação. Poderia ter feito bem melhor. O problema é que andava trabalhando e viajando muito aqueles dias e não tive tempo de preparar algo melhor. De qualquer forma, tudo vale a pena quando a alma não é pequena. Voltando ao assunto da bebedeira na boate, em determinados momentos tive ainda a sobriedade de olhar as pessoas bebendo, dançando e se divertindo, como se eu mesmo não estivesse ali e fosse um observador de outro planeta ou de outra espécie. Metodologicamente, isto seria impossível de acontecer, mas com os sentidos aflorados pelo álcool, tudo é possível, inclusive “viajar” no tempo e espaço. A música era alta e boa para dançar e luzes de todas as cores giravam no embalo da música. Eram quase todos jovens. Bebiam, dançavam, namoravam, fumavam e conversavam em voz alta. Quase todos estavam interagindo em pequenos grupos e poucos estavam sozinhos. Por um instante, ainda na condição de observador alienígena, vaguei mentalmente para outras festas e encontrei jovens se divertindo em bailes funks, em bailes os mais diversos, em bares, clubes, favelas, periferias e praças de muitas cidades. Como os daqui, também bebiam, dançavam, namoravam, fumavam, conversavam e se embriagavam. Na diferença de espaços, de condição social e da cor da pele, dentre tantas outras, havia algo em comum entre eles: a busca da alegria e da felicidade. Da mesma forma que não se preocupavam com a ressaca, física ou moral, também não tinham o menor interesse no conceito ou sentido filosófico, e muito menos religioso, do que seja alegria e felicidade. Interessava apenas viver intensamente aquele momento: a euforia, o êxtase, a viagem, uma espécie de não-sentir-se. Outros conceitos também não interessavam: certo, errado, moral, amoral, sobriedade, embriaguez, consciência, inconsciência etc. Como o tempo não pára, amanhã, apesar da alegria de hoje, em meio a tantas ressacas, os jornais e TVs, certamente, noticiarão algumas tragédias: jovens mortos no trânsito, jovens executados por engano por matadores de aluguel ou milicianos, jovens mortos por envolvimento com o tráfico de drogas ilícitas, jovens mortos em brigas inexplicáveis por outros jovens e outros mortos sem razão alguma pela polícia... Alguns retornavam de farras, outros passeavam apenas e outros se dirigiam ao trabalho ainda na madrugada. Depois de amanhã, apesar das tragédias de ontem, retornaremos à nossa vida de faz de conta. A hipocrisia move a história da dominação por séculos e séculos. Assim, lamentaremos profundamente as mortes precoces e pensaremos em mil soluções para evitá-las. Editoriais de jornais, conversas de botequim e de salões de beleza, políticos exaltados, padres e pastores, donas de casa, âncoras de telejornais e pessoas comuns apontarão soluções e medidas urgentes contra as farras e o modo de vida desregrado dos jovens. Como sempre, no entanto, as soluções indicarão, certamente, mais controle, proibições, castrações, regulações, ameaças, mais leis, mais crimes e mais penas. Vigiar e punir. Como sempre, mais uma vez, ninguém se lembrará de perguntar aos jovens bagunceiros e bêbados o que têm eles a dizer. A regra de conduta, do certo e da moral precisa ser imposta para ter validade. Sendo imposta, será também criada a estrutura para que seja cumprida e, caso contrário, punidos os que lhe desobedecem. Está criada, assim, a “lei e a ordem”. Está criado, por fim, o Direito Juvenil, que tem como fontes: o Estatuto da Juventude e os manuais escritos por velhos e renomados mestres que nunca foram (será?) jovens transgressores um dia. O Direito é norma e normalização. Que pena que seja assim! Pena que resumiram o Direito em poucos verbos: normatizar, proibir, vigiar e punir! Além de pobre, fundado em ilusões, conceitos, linguagem e abstrações. Pena que este Direito não se interessa (exceto para criminalizar e prender) pela vida nua e pelos que vivem em permanente estado de exceção, os pobres e excluídos. Pena que o Direito não seja o protagonista da organização social da liberdade (Lyra Filho), garantidor da alegria, da felicidade e da vida plena. Apesar disso, a vida real continua e para felicidade geral de tantos quantos buscam a alegria nos bares, praças, boates e nas mais diversas formas de embriaguez, nem a Lei e nem o Direito vão proibir o sábado de existir. Muito menos, vão proibir que o sol, apesar das mais diversas ressacas, anunciando a vida plena, brilhe nos domingos pela manhã. No mais, bom sábado à noite para todos! FONTE:www.gerivaldoneiva.com DR.GERIVALDO NELVA-Juiz de Direito- (Ba), membro da Associação Juízes para a Democracia (AJD)