NOVA RÁDIO CLUBE SERRINHA 24 HORAS NO AR

RADIOS NET:MELHOR PLATAFORMA DE RÁDIOS

A BIBLIA É A PALAVRA DO DEUS VIVO JEOVÁ.

A BIBLIA É A PALAVRA DO DEUS VIVO JEOVÁ.
DISSE JEOVÁ DEUS: "Meu espírito não terá tolerância com o homem indefinidamente, pois ele é apenas carne.Portanto, seus dias somarão 120 anos."Gênesis 6:1-22

quinta-feira, 15 de novembro de 2012

DR.CESAR OLIVEIRA(Foto):"Amar é fazer tapioca"

Conta Plínio, o Velho, em sua História Natural, que em Pérgamo, onde hoje é a Turquia, havia uma biblioteca que rivalizava com a de Alexandria, a mais famosa da época. Foi lá, quando o papiro egípcio ficou escasso, que foi criado o "pergamene" (pergaminho), de couro curtido de carneiro. Foi por esta dimensão que Marco Antonio deu a Cleópatra - incomparável, nos raros olhos violetas de Elizabeth Taylor - os 200.000 volumes que ela abrigava, como presente de casamento. Nos dias atuais, certamente não seria o tipo de sugestão que encontraríamos nas listas matrimoniais; aliás, está mais para a mulher largar o dito cujo no altar. Na falta de um trono, minha filha Luisa, 17 anos, foi estudar Medicina em Campinas. Muito falante, ela achava que o mundo tinha rodinhas, como as bicicletas, e as histórias de dormir não tinham fim. Sentimental e com vocação familiar, após passado o regulamentar tempo do deslumbramento de morar só, tem achado custoso ser autossuficiente. Após uma vinda aqui, levou farinha de goma porque ama tapioca e queria fazer para as amigas com quem mora. Bem, decepcionada, ela mandou uma mensagem pelo Whats App - sim, porque é preciso ser moderno - dizendo que não havia dado certo. Não sei se pela falha, saudade, ou por essas crises inexplicáveis de angústia que as mulheres costumam ter, ela começou a sexta-feira chorosa e desamparada. Esse doer me fez, de súbito, ir a Campinas. Antes de ir, eu, que nunca quis desvalorizar o potencial histórico da sabedoria culinária das mulheres, e só me aproximei da geladeira em busca do vinho, fui aprender a usar a goma com Eliana, cozinheira que tem um tempero dos deuses. Cheguei lá meia-noite e, no outro dia, provando que milagres acontecem, cessei a farinha de goma que levei, e, no fogo brando, fiz uma tapioca ótima, para o café. Os sabidos da cozinha podem estar achando pouco, mas cada um labuta com sua luta. Deu tão certo que tentamos até com recheios. Ela comeu como se fosse uma especiaria milenar, embora creia que, dadas as minhas habilidades culinárias, como tantas outras que me faltam, metade do sabor estava vindo do fato de ela se sentir cuidada e protegida. Conversamos sobre a vida, fomos ao teatro e às compras - oh, Deus! Assumi a empreguete e varri o quarto, arrumei os armários e as roupas, desci o lixo, fiz a feira, cortei as frutas da dieta e, domingo à noite, depois de fazer a saideira com presunto e queijo, me despedi, naquele choro disfarçado que eu e ela fazemos um para o outro nas separações. Já no avião ela me mandou um torpedo dizendo o quanto agradecia e outras coisas. Entendi que o esforço não tinha sido em vão, que a alma se aliviava do dilúvio dos apartados, e tive a sensação precisa de ter cumprido meu papel. Eu não sei - porque cada vez sei menos coisas - a receita do que vale a pena para vocês, mas não posso deixar de contar que, às vezes, a felicidade absoluta vem de gestos majestosos, como a Biblioteca de Pérgamo e, às vezes, vem da forma mais simples, como fazer tapioca por alguém.